V Congresso Brasileiro Psicologia: Ciência e Profissão

A edição de 2018 foi considerada a maior da história. Veja como foi

“Psicologia, Direitos Sociais e Políticas Públicas, avanços e desafios”, este foi o tema do V Congresso Brasileiro Psicologia: Ciência e Profissão, realizado em São Paulo, entre os dias 14 e 18 de novembro. O evento, organizado pelo Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (Fenpb), recebeu mais de 13 mil inscrições e se caracterizou como o maior da história do CBP. A AASPSI Brasil foi representada pela presidente, Ana Cláudia Junqueira Burd, pela primeira tesoureira Angela Aparecida dos Santos e pela conselheira fiscal Lilian Magda de Macedo e por associados.

O CBP se caracteriza por ser o espaço para o diálogo da diversidade da Psicologia no Brasil, onde as questões, abordagens e construções da profissão se apresentam e são debatidas. A programação incluiu desde simpósios magnos, diálogos (im)pertinentes, minicursos, lançamentos de livros e seis mil trabalhos nas salas.

As três conferências magnas trataram da superação das desigualdades no acesso e qualidade da formação em Psicologia, dos desafios da intersetorialidade nas políticas públicas e das práticas profissionais em contextos sem muros.

Judiciário, justiça e direitos, racismo, cidade, refugiados, questão indígena, vida sem partido, movimentos culturais e reforma trabalhista foram os temas que permearam os diálogos.

Abertura

Participaram da mesa de abertura, realizada no dia 14, o coordenador do V Congresso Brasileiro de Psicologia, Fabian Javier Rueda; o secretário executivo do Fórum das Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira – Fenpb, Rogério Giannini; a secretária geral da União Latino-Americana de Entidades da Psicologia – Ulapsi, Inea Giovana Arioli e a coordenadora do curso de Psicologia da Uninove, Daniela Alessandra Uga.

“Se temos uma tarefa que precisamos cumprir, esta é a da construção da unicidade. Na sociedade precisamos de uma ampla unidade de forças progressistas, democráticas, preocupação com a justiça social, com a defesa do Estado Democrático de Direito, estado laico, uma posição nítida, inequívoca e intransigente dos Direitos Humanos”, expôs Giannini. “Este evento traz a pluralidade do trabalho, das experiências, do conhecimento na Psicologia. Na Ulapsi buscamos fazer a articulação de toda esta riqueza da Psicologia entre os países latino-americanos”, afirmou Inea.

“Gostaria de reforçar a importância deste evento destacando aquilo que me pareceu mais potente no CBP: primeiro a força democrática de reunir cerca de 14 mil pessoas para pensar a Psicologia brasileira e o compromisso que este encontro tem em promover uma troca profunda e profícua entre a formação, a ciência e a profissão”, destacou Daniela. Fabian destacou que o V CBP já pode ser considerado o maior evento da história da Psicologia brasileira. “Temos a participação de representantes dos 26 estados da Federação e do Distrito Federal”, apontou. “O V CBP deixa em evidência a união da Psicologia brasileira, que está dando o seu recado: somos muitas e muitos, somos diversas e diversos, somos plurais. A Psicologia brasileira está aqui unida e dando a cara a tapa”.

A conferência de abertura foi proferida pelo economista e pesquisador da Unicamp, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2007 e 2012, Marcio Pochmann.  Ele trouxe para reflexão o que chamou de “um dos principais desafios do pensamento social: procurar entender como se constrói, como se refazem as instituições que de algum modo condicionam o rumo da sociedade”. Para o professor, “é fundamental enfrentar uma espécie de colonialismo mental que vem, de alguma forma, rompendo a produção do conhecimento da possibilidade da imaginação da transformação da própria realidade”, expôs. “É uma espécie de produção de conhecimento, de entendimento da realidade apartado das possibilidades da transformação desta mesma realidade, produzindo uma espécie de conhecimento meramente descritivo, quando não conhecimento fatalista de que a realidade é assim e dificilmente pode ser alterada”, completou.

Ele acredita que “a globalização vem sendo apresentada como um processo que vai condicionando as políticas públicas e, de certa maneira, moldando transformações e reformas que estão em curso em vários países, descaracterizando o estado de bem-estar social, o estado desenvolvimentista”. Este é um dos exemplos do “colonialismo mental” que nos leva a pensar que a globalização está colocada e não podemos fazer nada para mudar esta realidade.

A abertura do evento e outros vídeos de mesas e conferências estão disponibilizados nas redes sociais do CFP. Vale a pena conferir

Esther Arantes, Iolete Silva e nossa presidente Ana Cláudia Junqueira Burd

A participação da AASPSI Brasil

A diretora Lilian Magda de Macedo fez um relato sobre como foi participar do maior congresso da Psicologia. Veja:

“As atividades oferecidas pelo VCBP apresentaram uma maturidade da ciência psicológica ao refletir sobre temáticas do cenário atual sob olhares diversificados, trazendo para o debate outras áreas do pensamento para reafirmar seu compromisso histórico com os direitos humanos e crítica à organização de nossa sociedade em sua dimensão excludente e marcada pela desigualdade econômica.

Os debates sobre a atuação da ciência psi no campo da justiça e do direito revelaram um público jovem interessado na escuta de um cientista político e um promotor público, além de um psicólogo, que apontaram a pertinente crítica a um judiciário brasileiro demasiado grande em custos e, em contrapartida, pouco comprometido com a aplicação de uma legislação que se destine a todos de maneira igualitária e, portanto, não se defina marcado por um recorte classista, fundamentalmente.

Evidencia-se o compromisso do judiciário com setores do mercado financeiro e da velha política oligárquica, enquanto o direito ao contraditório vale até a última instância para poucos na dura realidade do cotidiano, enquanto o mérito das questões que lhe são endereçadas encontra-se pouco analisado à-luz de seu contexto cultural e econômico.

Os debates sobre a mudança na legislação que propõem alterações estruturais ao Estatuto da Criança e do Adolescente, conquista histórica de nossa sociedade, igualmente foram analisados sob a perspectiva dos interesses que intencionam a desresponsabilização do Estado na atenção às inúmeras famílias em vulnerabilidade que se encontram constrangidas em seu direito e dever de cuidar de seus membros, sendo, muitas vezes, destituídas dos únicos valores que possuem.

A Psicologia é convidada a rever suas práticas, a retomar seus compromissos com a dignidade humana, com os direitos de populações vulneráveis e marginalizadas; seus profissionais espalhados pelo grande território nacional novamente instados a renovar seu posicionamento diante de questões políticas e da existência, sendo convidados a resistir a tudo que fere a diversidade das formas de vida e a lançar sementes que conclamem a dignidade de todo ser humano em sua diversidade de formas.”

 

 

Sobre o(a) autor(a) Ana Carolina Rios

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), bacharel e licenciada em letras pela Universidade de São Paulo (USP). Assessora de Comunicação da AASPSI Brasil desde 2012.

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