11° Seminário Anual de Serviço Social

“Questão social, sexismo, racismo e lgbtfobia: Que país é esse? Foi o tema desta edição”

Em comemoração ao mês do assistente social, a Cortez Editora realizou mais uma edição do Seminário Anual de Serviço Social, um dos mais importantes eventos da categoria. Em seu 11° ano o tema escolhido foi “Questão social, sexismo, racismo e lgbtfobia: Que país é esse?”. A AASP Brasil, representada por sua vice-presidente, Cíntia Aparecida da Silva e por Elisabete Borgianni, do Conselho de Especialistas, acompanhou o seminário, que ocorreu no último dia 7 no Teatro Tuca, em São Paulo.

“Recentemente saiu uma pesquisa sobre o hábito de leitura no país e tenho certeza que o Serviço Social está entre as categorias que mais lê. Por isso esta categoria tem hoje esta discussão que poucas categorias têm”, expressou José Xavier Cortez, fundador da Editora na abertura do evento. “Destacamos este seminário como um ato político diante da dada conjuntura porque compreendemos que os espaços políticos são estratégias de resistência e de construção coletiva”, pontuou Liduína Oliveira, assessora editorial da área de Serviço Social.

Estado, questão social e a classe trabalhadora

“Estado, questão social e a classe trabalhadora: lutas sociais e a renovação do Serviço Social frente a barbárie capitalista” foi o tema da conferência, que contou com as palestras do professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Felipe Demier, de Lúcia Xavier, da Organização de Mulheres Negras Criola e da professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Silvana Mara Morais dos Santos. O debate foi coordenado pela professora da UERJ Elaine Behring.

Demier iniciou sua fala analisando a conjuntura atual a partir do golpe de 2016 e sua influência na ordem social do Brasil e no avanço do conservadorismo. “Certamente o golpe será objeto de análise dos historiadores durante um bom tempo, mas aqueles que fazem a luta política não podem esperar muito tempo até que os livros de história cheguem a um veredicto explicativo sobre o processo”, expôs. O professor acredita que o golpe não foi no regime político. “O regime político não foi solapado junto com o governo, o que era uma praxe nas modalidades de golpe anteriores”, alegou. “A democracia brasileira enquanto regime democrático liberal não foi solapada, pelo contrário, ela continua sua elasticidade, na medida em que evidenciou comportar mecanismos que se executados conseguem fazer com que o capital se livre de peças políticas incômodas em determinado momento, assim como o Partido dos Trabalhadores, sem ter com isso que apelar diretamente a um regime de força”.

Lucia falou sobre a questão do racismo. “As relações raciais brasileiras ainda são tratadas como uma questão secundária, apesar de a população negra corresponder a 54% da sociedade”, explicou. “Isso significa uma deliberada negação de participação desta população nos processos sociais”. Para ela, o racismo ainda é tido como algo banal, pequeno que “um dia será resolvido”. “A desigualdade racial é tida como a soma dos diferentes fatores de discriminação, mas não como algo que mata a existência de um grupo populacional”, completou.

Já Silvana abordou a necessidade de se buscar uma renovação do legado do Serviço Social e das lutas sociais para o enfrentamento da barbárie capitalista. “Não se trata de realizarmos um resgate histórico do processo de virada do Serviço Social da década de 70. Trata-se de buscarmos a renovação deste legado”, disse. Para ela, a capacidade crítica do assistente social é capaz de ir além do senso comum e enfrentar o ideário liberal burguês e do conservadorismo que insiste em assegurar e aprofundar de forma intensa a exploração capitalista.

Homenagem à Joaquina Barata Teixeira

A homenagem desta edição do Seminário foi para a professora Joaquina Barata Teixeira, graduada e mestre pela Universidade Federal da Pará (UFPA). É professora aposentada pela mesma universidade e coordena, desde 2001, a pós-graduação lato-sensu à distância na área do Planejamento e Gestão do Desenvolvimento Regional. Coordenou o primeiro curso de aperfeiçoamento, financiado pela SUDAM, que certificou técnicos dos pólos: Altamira, Itaituba, Santarém, Marabá, Belém e Castanhal. Joaquina também compõe o Conselho de Especialistas da AASP Brasil.

A homenagem foi conduzida pelo professor Marcelo Braz, que compôs, junto com Joaquina a Diretoria do conselho Federal de Serviço Social (CFESS), entre 2002 e 2008. “Eu era o mais jovem da gestão e Joaquina a menos jovem e houve uma atração imediata e nós nos adotamos, e foram seis anos de convívio e aprendizado”, disse. “Sua vida e trajetória se confunde com a própria história do Serviço Social no Brasil. Combateu o conservadorismo na profissão desde o movimento estudantil, no início dos anos 60 e viveu os momentos decisivos da sua renovação profissional, contribuído com ela”, lembrou.

“Este reconhecimento generoso não expressa mérito individual de conquistas no campo profissional, no campo docente e no campo das lutas sociais e sindicais. Reside aqui o mérito de alcance coletivo a ser creditado a professores e colegas que atravessaram o meu caminho e a ser creditado à nossa categoria no plano nacional e internacional”, agradeceu Joaquina.

Veja a homenagem completa no nosso canal no Youtube:

 

 

Trabalho profissional e as explorações de sexo, raça e classe

“Trabalho profissional e as explorações/opressões de sexo, raça e classe: a defesa do Projeto Ético-político do Serviço Social” foi o tema da mesa de debates da parte da tarde. Participaram do debate os professores Mirla Cisne, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), Guilherme Almeida, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Joaquina Barata, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Márcia Campos Eurico, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A mesa foi mediada pela professora da PUC-SP Raquel Raichelis.

“O que significa defender a liberdade como um valor ético central para uma profissão?”, questionou a primeira palestrante Mirla. “A liberdade é tão cara para o Serviço Social quanto para o feminismo. A luta do feminismo e a produção de conhecimento feminista é fundamental para a análise da sociedade, que é uma sociedade anti-liberdade, anti-igualdade, anti-diversidade humana”, disse. Para ela, as classes sociais têm raça e sexo e a exploração do trabalho no sistema capitalista não se limita à divisão social, há também as divisões sexual e racial.

Para Guilherme, é importante refletir sobre como o Serviço Social vem incorporando as discussões de gênero, raça, etnia e sexualidade e também sobre os possíveis caminhos de maior incorporação deste mosaico de temáticas Ele falou um pouco sobre sua trajetória e qual era o panorama de quando ingressou na pós-graduação. “A formação profissional naquele momento tinha um olhar que não considerava, em sua maioria, as diferentes expressões da questão social. Predominava um viés economicista e reducionista da questão social”, expôs. “Muitas vezes, nós como categoria, reeditamos de forma quase perversa em alguns espaços uma certa neutralidade de inspiração positivista que afeta a nossa percepção da própria identidade profissional”, alegou.

O Serviço Social e a questão indígena foi o mote da fala de Joaquina. Ela falou sobre a hipocrisia do nosso Parlamento “que hora proclama perspectivas democráticas no discurso, hora revela preconceitos e comportamentos racistas, machistas e homofóbicos.” Para a professora, a categoria tem que engendrar esforços “para que os três poderes do nosso estado republicano possam romper com a surdez, a cegueira e a indiferença ante as dramáticas realidades deste nosso país”.

E por falar em hipocrisia, Marcia falou sobre a questão do preconceito e de como muitas pessoas distorcem o discurso, muitas utilizando o próprio artigo 5° da Constituição Federal como desculpa contra legislações que garantam direitos às minorias. “É fácil defender o mérito pela ótica do privilégio, quando a vida não está em risco”, defendeu.

 

Sobre o(a) autor(a) Ana Carolina Rios

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), bacharel e licenciada em letras pela Universidade de São Paulo (USP). Assessora de Comunicação da AASPSI Brasil desde 2012.

Deixe um comentário